sábado, 20 de outubro de 2012

Como draftar um quarterback, Parte 4 - Um experimento chamado Kyle Boller

Esta é a Parte 4 de uma série de 7 posts sobre o assunto.


Por Brian Billick, NFL Network
19 de abril de 2012

Encontrar o quarterback certo é a chave para o sucesso na NFL.

Pensando nisso, por que não contratar um especialista? Alguém que entenda do assunto, alguém com currículo. Nos últimos 25 anos, ninguém teve um currículo melhor do que Ron Wolf, ex-gerente geral do Packers. Na sua época, quando estava montando o elenco do Tampa Bay Buccaneers, ele selecionou Doug Williams. Em Green Bay, ele liderou a negociação para ter Brett Favre, e também draftou Mark Brunnell, Matt Hasselbeck e Aaron Rodgers. Todos eles deram certo, e todos eles não só alcançaram as expectativas, como também as ultrapassaram. Ou seja, se existe alguém com olho clínico e que entende de quarterbacks, esse alguém é Ron Wolf.

E é claro, ele teria selecionado Peyton Manning ao invés de Ryan Leaf em 1998. Mas ele deixou claro que praticamente todos que tinham preferência por Manning teriam pego Leaf logo em seguida. Apesar disso, Wolf não tem a pretensão de ser o dono da verdade. “Manning vs Leaf não importa”, ele diz. “Eu achei que Heath Shuler seria um craque”. Shuler durou 4 anos na NFL e foi um quarterback com aproveitamento de menos de 50% nos passes.

Uma das principais razões pelas quais estou hoje trabalhando como comentarista de TV ao invés de ainda comandar o Baltimore Ravens é que eu fui incapaz de descobrir e desenvolver um quarterback de talento durante os meus 9 anos em Baltimore. Mas não foi por falta de tentativas.

No draft de 2003, nós sabíamos que tínhamos que draftar um quarterback. Tínhamos passado por períodos difíceis com a posição, e ainda assim conseguimos vencer um Super Bowl. Mas pensando a longo prazo, nós precisávamos de alguém para comandar o time dentro de campo. Com a décima nona escolha do draft de 2003, nós selecionamos Kyle Boller, da California. Ele se deu bem jogando num sistema ofensivo muito parecido com o profissional, tinha um lançamento forte e inteligência.

Phil Savage, na época nosso diretor do departamento de jogadores, havia observado Boller durante toda a temporada e ficava cada vez mais animado sobre ele à medida que o ano passava. Os três quarterbacks mais expressivos no draft daquele ano eram Carson Palmer, Byron Leftwich e Boller. Todos eles tinham as credenciais para serem excelentes atletas na posição, e havia também a certeza de que seriam selecionados na primeira rodada.

Durante o combine, conseguimos entrevistar estes três quarterbacks em sequência, um após o outro. E mesmo que cada entrevista tenha durado apenas 15 minutos, você tem uma clara ideia das diferenças entre as personalidades de cada quarterback, ainda mais pelo fato de entrevistá-los na sequência, um logo após o outro. Cada um deles tinha excelentes pontos positivos mas, como é comum nestes casos, todos eles tinham também um pequeno ponto negativo. É comum treinadores sempre se aterem mais ao ponto negativo (por melhor que seja o atleta), porque caso o jogador não atenda às expectativas, eles dizem “Eu já sabia que isso iria acontecer, por causa daquele ponto negativo, etc”.

No caso destes três, os pontos negativos eram bastante específicos. Em relação a Palmer, as pessoas estavam preocupadas com a sua capacidade de liderança. Ele não parecia ser uma pessoa de carisma como normalmente espera-se de um quarterback. Embora ele fosse um jovem bastante inteligente, após a entrevista você não ficava muito empolgado com o quesito liderança. No caso dos outros dois, isso não era problema. Leftwich e Boller tinham energia e capacidade de liderança de sobra. A preocupação em relação a Leftwich eram suas contusões anteriores e a falta de mobilidade. Quanto a Boller, era a precisão no passe.

Assim como Bill Devaney e a equipe do Chargers em relação a Ryan Leaf, nós nos convencemos de que estes pontos negativos eram meros detalhes. Nós estávamos muito confiantes em relação aos pontos positivos de Palmer que imaginamos que seria possível transformá-lo num líder em campo. Com Leftwich, concluímos que sua mobilidade não era pior do que a de muitos quarterbacks da NFL. E quanto a Boller, decidimos que a falta de qualidade dos recebedores de seu time da faculdade era o grande motivo para sua falta de precisão no passe.

No dia do draft, com a décima nona escolha (que veio por uma troca com o New England Patriots), selecionamos Kyle Boller. Com o passar dos anos, vimos que a falta de precisão de Boller era resultado não apenas do fraco elenco de recebedores que ele tinha à disposição na faculdade, mas também de seu nervosismo e falta de segurança, que faziam com que seus fundamentos básicos falhassem nos momentos críticos. Isso fez com que ele tivesse uma taxa de passes completos de menos de 60% em sua carreira.

Resumindo: Boller não deu certo, e consequentemente eu também não. Deixei a equipe após a temporada de 2007 e, no draft de 2008 o Ravens ainda precisava de um quarterback. Eles fizeram sessões privadas de testes com Matt Ryan, Brian Brohm e Chad Henne. Eles também fizeram o mesmo com Joe Flacco, um atleta de lançamento forte que tinha começado em Pittsburgh e depois havia se transferido para Delaware, na Divisão I-AA.

O processo era o mesmo, assim como as pessoas envolvidas nas avaliações. A exceção era que, agora, o novo coordenador ofensivo e ex-técnico principal do Miami Dolphins, Cam Cameron, estava envolvido. Cam havia sido demitido do Miami depois da temporada de 2007 e era severamente criticado por ter selecionado o quarterback John Beck, de BYU, com a quadragésima escolha do draft de 2007. A regra dos 50% estava valendo com nunca. O Ravens estava 50/50 com as escolhas de Boller e Flacco, enquanto Cameron também estava 50/50, com as escolhas de Beck e Flacco. O resultado foi que Flacco (que inicialmente estava sendo orientado a apenas “gerenciar” o jogo, e não vencê-lo) mostrou que tinha um lançamento forte, boa presença no pocket e calma nos momentos críticos, levando o Ravens a duas finais de conferência.

Há vários times cujas escolhas variam entre 5 e 15 no draft deste ano que estarão olhando para Ryan Tannehill, de Texas A&M, e se perguntando se ele é um novo Flacco ou um novo Boller. Mas com certeza pelo menos um destes times precisando de quarterbacks vai se convencer de que Tannehill é um novo Flacco.

Brian Billick é ex-técnico da NFL, e liderou o Baltimore Ravens ao título do Super Bowl de 2000. Ele foi treinador do Ravens durante 9 temporadas (1999-2007) depois de trabalhar no Minnesota Vikins como coordenador de ataque (1994-98). Além de escrever para a NFL.com, Billick é analista no NFL Network's Total Access e também em outros programas.

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- Tradução livre de Marcos Koji Onodera

Conteúdo original em:
http://www.nfl.com/draft/story/09000d5d8286f0f3/article/how-to-draft-a-qb-part-4-the-kyle-boller-experience

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